sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A Paixão da Educação


O núcleo escolar da Portela das Padeiras, Santarém, atribuiu um limite de 5 euros mensais por turma para telefonemas. Assim, quando a escola precisa de entrar em “contacto urgente” com os pais “dá um toque…e espera que o encarregado de educação ligue de volta”.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O Diário do Professor Arnaldo - A fome nas escolas
Publicado em 19 de Novembro de 2010 por Arnaldo Antunes

Ontem, uma mãe lavada em lágrimas veio ter comigo à porta da escola. Que não
tinha um tostão em casa, ela e o marido estão desempregados e, até ao fim do
mês, tem 2 litros de leite e meia dúzia de batatas para dar aos dois filhos.

Acontece que o mais velho é meu aluno. Anda no 7.º ano, tem 12 anos mas, pela
estrutura física, dir-se-ia que não tem mais de 10. Como é óbvio, fiquei
chocado. Ainda lhe disse que não sou o Director de Turma do miúdo e que não
podia fazer nada, a não ser alertar quem de direito, mas ele também não queria
nada a não ser desabafar.

De vez em quando, dão-lhe dois ou três pães na padaria lá da beira, que ela
distribui conforme pode para que os miúdos não vão de estômago vazio para a
escola. Quando está completamente desesperada, como nos últimos dias, ganha
coragem e recorre à instituição daqui da vila - oferecem refeições quentes aos
mais necessitados. De resto, não conta a ninguém a situação em que vive, nem
mesmo aos vizinhos, porque tem vergonha. Se existe pobreza envergonhada, aqui
está ela em toda a sua plenitude.
Sabe que pode contar com a escola. Os miúdos têm ambos Escalão A, porque o
desemprego já se prolonga há mais de um ano (quem quer duas pessoas com 45 anos
de idade e habilitações ao nível da 4ª classe?). Dão-lhes o pequeno-almoço na
escola e dão-lhes o almoço e o lanche.

O pior é à noite e sobretudo ao fim-de-semana. Quantas vezes aquelas duas
crianças foram para a cama com meio copo de leite no estômago, misturado com o
sal das suas lágrimas...
Sem saber o que dizer, segureia-a pela mão e meti-lhe 10 euros no bolso. Começou
por recusar, mas aceitou emocionada. Despediu-se a chorar, dizendo que tinha
vindo ter comigo apenas por causa da mensagem que eu enviara na caderneta.

Onde eu dizia, de forma dura, que «o seu educando não está minimamente
concentrado nas aulas e, não raras vezes, deita a cabeça no tampo da mesma como
se estivesse a dormir».
Aí, já não respondi. Senti-me culpado. Muito culpado por nunca ter reparado
nesta situação dramática. Mas com 8 turmas e quase 200 alunos, como podia ter
reparado?
É este o Portugal de sucesso dos nossos governantes. É este o Portugal dos
nossos filhos. É este o Portugal de sucesso e orgulho do Sócrates!!!!